21/12/2016

Reflexão!

"Na vida, somos todos semeadores. Ninguém vive sem semear: seja o bem, seja o mal...
Felizes são  aqueles que por onde passam, deixam sementes de amor, paz e luz sempre."

Paz e Luz!

Um comentário:

Martius de Oliveira disse...

Gaiola das Loucas
Passei vinte e um dias internado em uma ala psiquiátrica do Hospital São Francisco por dependência a drogas, mais exatamente benzodiazepínicos (lexotam, olcadil, rivotril, dormonid, etc). Passei o ano inteiro tentando vencer a dependência. Tentava largar e até conseguia por alguns dias mas então vinham a insônia, a ansiedade, a exaustão, o pânico e simplesmente não aguentava. Voltava aos medicamentos. Nessa ala do hospital, tudo era gradeado e com seguranças. Não havia espelhos, não se podia usar lápis, aparelho de barbear, os horários eram rigidamente controlados e todos tinham que usar uma roupa de interno. Conheci dependentes de cocaína e alcoólatras pesados. Fiz uma merda colossal? Claro! Me fudi? Totalmente. Fundo do poço? Sei lá. Vendo os outros achei que pudesse ser ainda pior. Passei a dar muito valor aos Narcóticos Anônimos. Eu me comovi com os depoimentos sinceros de vários dependentes como eu, muitos idealistas como eu. Aprendi muito.
Volto pro mundo e começo a conversar com as pessoas conhecidas sobre essa experiência tão marcante. Fico bolado. Há um fino verniz de moralidade altiva cobrindo-as.
As pessoas que eu gostaria de conhecer mais a fundo e com as quais eu gostaria de conversar se encontram fora de alcance. Eu não consigo entender a razão mas elas se encontram voluntariosamente soterradas debaixo de metros e metros de qualidades alegadas, de perfis indeléveis, de maturidade botulínica, de esnobismo espiritual, de poses, de sofismas e de selfies. Não sentem medo. Não tem dúvidas. Não fazem merda. Não choram. O preço é alto demais eu penso.
Cadê o erro insistente, a falha de caráter, a grande burrada, o tombo ralado, o eu não sei, a hora da morte, o momento de crise? Cadê o que nos define humanos? Se eu esconder de mim esses primeiros como haverá crescimento, reciclagem, construção e progresso pessoal? Se eu não reconhecer as minhas faltas, se eu não dialogar honestamente comigo mesmo, como poderei melhorar? Se eu me tornar presa da vergonha, como poderei me tornar um ser humano mais empático, mais bondoso, mais compassivo, mais humilde? Se eu não diagramar cuidadosamente tudo que faço de errado como poderei me enxergar verdadeiramente no espelho? Se eu não me congratular toda vez que acerto? Se eu não me perdoar independentemente do que todo mundo pense a meu respeito? Aguardo uma resposta.
De repente me lembro que em toda festa que eu vou eu sou sempre o primeiro - e às vezes o único - a dançar no salão.
Martius de Oliveira